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ÉTICA CRISTÃ E POLÍTICA: UMA REFLEXÃO SOBRE O EXERCÍCIO DA CIDADANIA PLENA - III

   Eis a triste condição de milhões de brasileiros: Sem terra, sem teto, sem trabalho, sem dignidade, sem esperança... Isto nos faz lembrar o que disse Abraham Kuyper, (O Cristianismo e a Luta de Classes, publicado em 1891) ardoroso defensor da ortodoxia bíblica contra os teólogos liberais, fundador da Universidade Livre de Amsterdã, e primeiro-ministro da Holanda: “Quando ricos e pobres se opõem uns aos outros (Jesus) nunca fica do lado dos ricos, mas sempre do lado dos pobres... Ele se colocava invariavelmente contra os poderosos e aqueles que viviam luxuosamente, e a favor dos que sofriam e eram oprimidos” (Paul Freston, Fé Bíblica e Crise Brasileira, p.47). Deus usa seus servos fiéis para abençoar as nações, homens que se dedicam ao seu semelhante por princípio e formação cristã. No entanto, o autor de Provérbios afirma: “Quando o ímpio domina, o povo se entristece; quando o justo governa, o povo se alegra” (29.2). E, para mudar tal situação só através de homens comprometidos com o temor de Deus, os valores humanos eternos e, portanto, com o bem comum. Destaco, finalmente, uma advertência excepcional de Max Weber sobre a atividade política: “atividade política é como escavar lenta e determinadamente em solo duro, com entusiasmo e discernimento. A história prova que não se alcança o possível se não se sai às vezes em busca do impossível. O homem que empreende atividade política precisa ser um líder e até mais que isso – um herói, no sentido literal. Os que não possuem nenhuma dessas qualidades precisam armar-se da fortaleza de coração que dá esperanças até aos desesperados, ou não terá condições de fazer coisa alguma. Só os que têm a certeza de não esmorecer quando o mundo lhes parecer estúpido ou mesquinho demais para apreciar o que eles lhe oferecem, e estão dispostos a perseverar, devem escolher a política como profissão”. Hans Küng, teólogo Alemão é incisivo ao perguntar: Por que se deve ser cristão? Sua resposta profunda do sentido do ser cristão aplica-se, de igual forma, a participação cristã na vida da polis e, portanto, da política. Eis sua contundente resposta: Para ser verdadeiro homem! Que vem a ser isto? Ele diz: “... Olhando para o Cristo crucificado e vivo, o homem (também o do mundo de hoje) é capaz, não somente de agir, mas de sofrer, não só de viver, mas de morrer. E onde a pura razão se vê obrigada a capitular para ele ainda existe sentido, também no absurdo da miséria e da culpa, pois também ali ele se sabe sustentado por Deus, tanto no que é positivo, quanto no que é negativo. Desse modo, a fé em Jesus, o Cristo, oferece-lhe paz com Deus e consigo mesmo, sem escamotear os problemas deste mundo. A fé torna o homem autenticamente humano, porque o faz ser co-humano: aberto ao extremo, para o outro que dele precisa, para o “próximo”. Perguntamos: por que se deve ser cristão? Agora compreender-se-á mesmo se dermos à resposta uma formulação concentrada: No seguimento de Jesus Cristo o homem, no mundo de hoje, pode viver, agir, sofrer, morrer verdadeiramente como homem: em ventura e desgraça, vida e morte, amparado por Deus a serviço dos homens. (KÜNG, HANS. Ser Cristão. Trad. Pe. José Wisniewski Filho. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1976, p. 523) Que devemos fazer como cidadãos? Que devemos fazer como cristãos? Devemos nos envolver politicamente ou nos omitir? Alguns, tentando se justificar, dizem: “Votar? Para quê? São todos farinha do mesmo saco!”. Você certamente já disse ou ouviu alguém dizer isto. Contudo, tal postura cômoda, para não dizer omissa, não resolverá os grandes problemas nacionais – morais, espirituais, sociais, econômicos e políticos. É melhor, como cristãos, decidirmos pela participação firme e consciente, quer como cidadãos comuns ou políticos profissionais a serviço do país. Assim, caro leitor, seja qual for à opção, que seja para a construção do bem comum e para a glória de Deus. Lembremo-nos, da promessa de Deus: “Bemaventurada é a nação cujo Deus é o Senhor” (Sl 144.15 b).

PR. ANTONIO SÉRGIO

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