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Ética Cristã e Política: Uma reflexão sobre o exercício da cidadania plena - I

     Aproximam-se as eleições. Em milhares de municípios, milhões de brasileiros escolherão na área do Poder Executivo e no Legislativo, o Presidente da República, os Deputados Estaduais e Federais e os Senadores, que em seu nome e benefício, elaboram leis justas e eficazes e governam em tese, para o bem comum, o Estado Brasileiro. Contudo, antes de tratarmos das implicações da ética cristã para a atividade política, é necessário que diferenciemos o sentido dos termos: “ética” e “política”. Ethos significa “estilo de vida, conduta, costume ou prática”, segundo o Novo Testamento (Lc 1.9; 2.42; Jo 19.40; At 6.14; 28.17; Hb 10.25). Definindo Ética: É o estudo da moralidade (do Latim: “moralitos”, que significa “a qualidade do que é moral”, “caráter”), e não o estudo de costumes. Por isso, ela procura a verdade e o bem através do Supremo Bem que é Deus e de Sua vontade revelada aos homens nas Escrituras Sagradas (cf., Reifler, H.N., in: A Ética dos Dez Mandamentos. 1992:16-17).

     Segundo a clássica definição do filósofo grego Aristóteles, (328 a. C), “política é a ciência, arte, técnica e estratégia de administrar para o bem comum; mas decisivo do que o bem individual”. ‘Política’, para Umberto Padovani, em sua obra clássica “História da Filosofia” (2000:133), define-se como: “a política aristotélica é essencialmente unida a moral, porque o fim último do Estado é a virtude (que ele distingue em éticas que constituem propriamente o objeto moral, e as dianoéticas, que a transcendem. As virtudes intelectuais, teoréticas, contemplativas, são superiores às virtudes éticas, práticas, ativas), isto é, a formação moral dos cidadãos e o conjunto dos meios necessários para isso”. Destarte, o Estado é um organismo moral, condição e complemento da atividade moral individual, e fundamento primeiro da suprema atividade contemplativa. Desse modo, ‘ética’ é a doutrina moral individual, a política é a doutrina moral social. Portanto, o entendimento dos princípios éticos que devem reger a conduta individual e do Estado no exercício da cidadania é de fundamental importância, sobretudo nestes dias que antecedem as eleições. Posto isto, fica claro que a ética cristã-política procura fazer a vontade de Deus na sociedade para o bem comum. O exercício da completa cidadania – terrestre e celestial -, pelos cristãos é um privilégio, mas, também, um dever intransferível diante de Deus e dos homens, pois o cristão, segundo Jesus, dever ser ‘luz’ e ‘sal’ da terra. (Sermão da Montanha)

    No mês de Outubro do ano em curso, junto aos demais brasileiros, os cristãos exercerão o direito e o dever de transcendental importância político-social: Votar! Um direito indispensável e intransferível que deve ser exercido de forma consciente para que os mecanismos de gestão social - as entidades políticas -, sejam aprimoradas para o bem estar social das pessoas, das famílias e, assim, da sociedade como um todo. Tal dever precisa ancorar-se sob a firme convicção de que todos devemos buscar o bem comum. Assim, dos que postulam cargos políticos, a doutrina Cristã exige as seguintes posturas – (Jornal A TARDE; 28.07.96).

=> Ver na política não uma ambição do poder pelo poder num jogo de interesses pessoais, familiares ou corporativos;

=> Estar profundamente comprometido com a cidadania, o povo, principalmente os necessitados, explorados e marginalizados;

=> Fazer aliança ou parceria, não com detentores costumeiros do poder, mas com quem serve ao povo: Universidades, Igrejas, uniões e organizações de classe capazes de procurar o bem comum; Algumas qualidades indispensáveis aos que postulam cargos políticos:

=>Antes de tudo a decência, a lisura, a honestidade que constituem o exato contrário da corrupção ativa ou passiva;

=> Competência, conhecimento profundo das formas, métodos e práticas políticas, sem o qual de nada adianta a decência;

=> Experiência administrativa ou legislativa;

=> Coerência entre o ser humano e o homem político; vida pessoal e democrática e o exercício do poder;

=> E, por último, a eficiência, ou seja, habilidade e capacidade de realizar de forma correta um projeto político para o bem comum.

     Essa percepção da realidade política como sendo de natureza absolutamente ética, pois somente assim pode alcançar o seu fim maior é fundamental. Nada mais salutar do que jamais votar em quem não corresponde com seus atos na vida privada, a ética que se requer dos homens públicos. Dessa forma, é salutar não votarmos em candidatos ao parlamento, especialmente, nos que respondem a processos por razões de ordem ética e outras que vinculam a sua imagem e atividade a ilicitude. É tempo de passar o Brasil a limpo e, assim, não votar nestes indivíduos já é um bom começo.

PR. ANTONIO SÉRGIO

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